quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Para sociólogo, problema brasileiro não é de raça mas de desigualdade de classe


A desigualdade social é o problema mais marcante no Brasil. Para o sociólogo Jessé Souza, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, apesar de o racismo ser um "drama real, virulento e que infringe dor e sofrimento para toda uma vida, o aspecto invisível da desigualdade social nunca foi a raça, mas sim o pertencimento à classe social".
"O dado da raça torna esse processo de classificação social ainda mais difícil para algumas pessoas, mas não o explica na sua dimensão mais essencial nem é o dado mais determinante. Apenas a incrível cegueira com relação à reprodução da desigualdade de classes pode explicar que se fale sempre em raça e nunca em classes. Tudo entre nós serve para tornar as classes, o esquema mais fundamental de produção de desigualdades e injustiças de todo tipo, invisível", analisa o sociólogo que organizou o livro A Ralé Brasileira: quem é e como vive.
No livro, o intelectual alinha mais tijolos na construção de uma teoria social sobre a modernidade brasileira, que se caracteriza por um agudo processo de desigualdade social. O livro fala sobre a brasilidade e sobre as desigualdades de classe, gênero e cor.
O sociólogo acredita que, como apenas as raças são visíveis, o debate se torna pobre e superficial. Segundo Jessé, a raça sempre serviu com sua própria ''visibilidade'' - para obscurecer a classe desde a construção do mito do encontro racial. Nesse mito, "as raças encobrem as classes e a mestiçagem é percebida como prova empírica de uma nação com mobilidade social e abertura".
Jessé Souza se opõe ao "gueto do racialismo" e tenta com a sua teoria social mostrar que a desigualdade "tem a ver, antes de qualquer outra coisa, com processos pré-reflexivos e emocionais em ação desde a mais tenra idade e no seio da família", teoriza o sociólogo sobre a reprodução das classes sociais.

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